Bem, essa é uma dúvida realmente muito comum. Quando estamos pouco familiarizados com o tema e nos deparamos com estas palavras com notáveis semelhanças no modo de escrever (todas começam com “psi”) logo nos vem um imaginário de um profissional um tanto místico, de ar sombrio, capaz de ler nossos pensamentos, de invadir os confins de nossa mente e extrair de lá verdades que nem nós mesmos temos conhecimento.
Gostaria de já deixar bem claro que isso é um grande engano. O generalizado ar místico e sombrio é apenas uma imagem equivocada. Além disso, nenhum ser humano é capaz de ler a mente de outro, o que quer dizer que nenhum destes três profissionais, sendo humanos, poderá ler a mente de alguém.
Portanto, para melhor compreendermos as diferenças implicadas nessas três categorias, vamos à uma breve descrição de cada uma delas.
O Psiquiatra
A Psiquiatria é um campo do saber atrelado à Medicina. Nesse sentido, o psiquiatra é alguém formado em Medicina que, após 6 anos de formação médica, decidiu especializar-se na área da Psiquiatria. Com isso, tem-se que só pode ser psiquiatra alguém que se formou em Medicina: trata-se de um caminho bem específico a ser percorrido.
Além disso, é preciso dizer, o campo de atuação do psiquiatra orbita o contexto da Saúde Mental, então esse profissional será encontrado nos equipamentos de saúde principalmente. Por partir de um ramo da Medicina, a abordagem que o psiquiatra faz da saúde mental e do sofrimento psíquico parte de uma perspectiva mais positivista, considerando que o sofrimento psíquico seria causado por um agente externo que insere a “patologia” no indivíduo. Por exemplo, sob esse modo de pensar as causas de alguns modos de sofrer podem ser explicadas por alterações na fisiologia ou química cerebral. Algo alterou a normalidade daquele indivíduo e cabe ao psiquiatra ajudar a recuperá-la, ou reconduzi-lo para o mais próximo possível dela.
Por fim, vale deixar claro que a prescrição e tratamento farmacológico do sofrimento psíquico é atividade restritiva ao psiquiatra, ou seja, somente o psiquiatra pode indicar remédios psicotrópicos.
O Psicólogo
A Psicologia também é um campo do saber. Contudo, conquistou sua independência da Filosofia em 1879 quando Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório de Psicologia na Alemanha. Então, “Psicologia” é uma ciência independente, tal como Química, Física, História, Geografia, Sociologia etc.
O Psicólogo formado no Brasil é alguém que fez um curso de nível superior de 5 anos de duração. Depois disso ele já é psicólogo, de maneira que poderá se especializar em uma das várias áreas que a profissão lhe permite. A amplitude do campo de atuação da Psicologia é realmente surpreendente. Eu diria que onde quer que existam seres humanos o psicólogo pode contribuir. Nesse sentido, esse profissional pode estar presente em muitos lugares: escolas, hospitais, comunidades, empresas, prisões, equipamentos de saúde, organizações não governamentais, equipes esportivas, nos órgãos do governo e etc… Enfim, são muitas as áreas em que o psicólogo pode desenvolver um trabalho relevante e a atuação em uma clínica privada é apenas uma das diversas possibilidades.
Quando atua na clínica, o psicólogo trabalha as questões emocionais dos indivíduos por meio de psicoterapia, recorrendo a instrumentos e técnicas provenientes da ciência psicológica para ajudar o indivíduo. Aliás, como já foi dito, somente o psiquiatra receita remédios para tratar questões psíquicas. Enquanto ciência, a Psicologia procura produzir conhecimentos que possam ser generalizados à todos os indivíduos.
Uma característica muito importante é que não existe somente uma Psicologia, mas sim “Psicologias”, ou seja, assim como ocorre em outras ciências humanas, a Psicologia possui um corpo teórico muito grande que é constituído por maneiras diferentes de pensar e conceber os fenômenos. Dessa forma, temos o que geralmente se chama de abordagens em psicologia, que são diferentes formas de explicar o fenômeno humano. Todas as abordagens são capazes de instrumentalizar o psicólogo para atuar nas diferentes áreas citadas, assim, cabe a este profissional especializar-se no corpo teórico com o qual prefere pensar e embasar sua prática no mundo.
O Psicanalista
A Psicanálise, assim como a Psicologia e a Psiquiatria, também é um campo do saber, uma disciplina do conhecimento. Ela surgiu com um médico neurologista chamado Sigmund Freud, que notou a insuficiência do discurso médico para explicar certos fenômenos como, no caso, a histeria.
Ao longo de sua vida Freud formulou e constantemente aprimorou uma teoria revolucionária no modo de conceber aquilo que é humano: a Psicanálise divide o que para a Psicologia e a Psiquiatria é indivisível, ela divide o indivíduo. Nesse sentido, para a Psicanálise os sujeitos são divididos em instâncias psíquicas, a saber: Isso (Id), Eu (Ego) e Supereu (Superego). Cada uma delas é dotada de funções e modos de funcionamento próprios e isto implica uma série de consequências, mas salientemos que o sujeito é dividido e contraditório em si mesmo: em Psicanálise, o sujeito não é dono de si e vive diferentes contradições a partir de conflitos psíquicos inconscientes.
Diz-se que quando Freud criou a Psicanálise ele não queria que ela ficasse sob o domínio de outra ciência, como a medicina ou a psicologia, mas sim que fosse ela mesma uma ciência independente. Entretanto, não existe um curso superior em psicanálise e o psicanalista é alguém que concluiu alguma graduação e, após isso, percorreu um caminho de formação em psicanálise: na pós-graduação ou em escolas de Psicanálise.
Isso implica que o psicanalista é alguém que necessariamente possui nível superior, entretanto, tanto psicólogos como médicos e psiquiatras podem se tornar psicanalistas. Além disso, algumas escolas de psicanálise não impedem que outros profissionais busquem formação em psicanálise, como filósofos, pedagogos, cientistas sociais, historiadores, etc. Mas a formação específica é necessária pois, por ser uma ciência independente, a psicanálise requer uma formação em seu corpo teórico também independente.
Pode-se dizer que a Psicanálise é uma matriz teórica do singular, está interessada na singularidade de cada um, e nisso ela difere da Psicologia, que tende a procurar regras gerais que valham para todos. Entretanto, em alguns momentos essa diferença pode parecer sutil, o que implica que para melhor abordar os contrastes entre Psicologia e Psicanálise precisamos dedicar um pouco mais de atenção ao tema, o que já foi trabalhado em outro texto.
Em relação ao sofrimento psíquico, a psicanálise parte de uma perspectiva dita hermenêutica, considerando que o sofrimento psíquico diz respeito a um distúrbio na produção dos sentidos, referindo-se a uma forma de estar no mundo, e não como provocado por um agente externo. Por conta das várias possibilidades de formação inicial, a atuação do psicanalista não se restringe à clínica, por exemplo: o psicanalista pode ser também um psicólogo e estar presente em todos aqueles contextos citados ou um psiquiatra e ocupar os diversos espaços relacionados à psiquiatria.
Gostou do assunto? Quer saber mais sobre o tema? À seguir disponibilizo alguns vídeos nos quais profissionais renomados falam sobre a questão.
Vídeos sobre o tema
No vídeo abaixo, Christian Dunker, que é professor Titular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo – IPUSP, explica as diferenças entre Psicologia, Psicanálise e Psiquiatria.
Jorge Forbes, psiquiatra e psicanalista lacaniano, também fala sobre o assunto, comentando sobre a formação do médico psiquiatra, do psicólogo e psicanalista. Confira a seguir!
Por Larric Malacarne.